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FITOTERÁPICOS DO URUCUM

O uso de partes de ativos naturais, vegetais ou animais, no tratamento de doenças é muito antigo e remonta à pré-história e essa prática subsistiu ao tempo por meio da informação passada entre gerações. Muitos são os exemplos do uso desses produtos para a cura de enfermidades e que tem sua eficácia comprovadas pelo avanço das pesquisas farmacológicas. Vários são os estudos que buscando identificar e isolar as substâncias que apresentam as atividades farmacológicas atribuídas a um produto natural, que acabam gerando medicamentos com reconhecidas propriedades medicinais.

Apesar de usada predominantemente para a produção de um corante muito utilizado pela indústria de alimentos, as sementes de urucum vêm ganhando destaque por conter outras substâncias de importância para a indústria farmacêutica (CARVALHO, 2015). MORAIS et al. (2005), estudando populações de indígenas cita o uso tradicional do urucum contra a queimadura solar, na proteção contra insetos e no combate a diferentes enfermidades. Na medicina doméstica o urucum têm sido utilizado como: laxante, cardiotônico, hipotensivo, expectorante, antibiótico, anti-inflamatório, antifebril, etc. (MOZONTE et al. 2013;    CAPELLA et al., 2015; ULBRICHT et al., 2012; SAGVIKAR et al., 2015; CHENGAIAH et al., 2010; CHANDEL et al., 2014; TAN, 2004; YONG et al., 2013; VILAR et al., 2014; PÉREZ & SANCHÉZ, 2010).

Todos esses estudos indicam que há nas sementes de urucum substâncias que isoladas ou por sinergismo apresentam atividades farmacêuticas. A busca por essas substâncias ou grupos de substâncias para uso medicinais tem sido objetos de vários artigos e patentes nos últimos anos. Recentemente uma pomada com base no óleo de urucum destinada à cicatrização de feridas foi patenteada (REIS, 2010). Tecnologias para a separação de geranilgeraniol e tocotrienóis para utilização como suplemento nutricional foram objetos de patentes em vários países (TAN, 2004; TAN & FOLEY, 2002; CARVALHO, 2020).

GERANILGERANIOL

Aparência e fórmula estrutural do Geranilgeraniol 
 

O termo geranilgeraniol tem sido utilizado para descrever um álcool diterpeno de cadeia linear, de cor amarelo claro, com peso molecular de 290, ponto de ebulição de 390ºC a 760mmHg e densidade de 0,88 g/ml. Sua fórmula estrutural pode ser descrita como: all trans-3, 7. 11, 15-tetrametilhexadecatetra-2, 6, 10, 14-em-1-ol. Solúvel em solventes orgânicos como clorofórmio, acetona e álcool, o geranilgeraniol é conhecido como um intermediário de biossínteses importantes, como a da vitamina K , de tocoferóis e tocotrienóis, de diversos hormônios e dos carotenóides.

A presença de geranilgeraniol em sementes de urucum foi citada por CRAVEIRO e colaboradores em 1989, que já insinuava que algumas das propriedades farmacológicas do urucum poderiam estar associada à presença dessa substância. Em um estudo conduzido pelo laboratório de corantes naturais do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) em 62 amostras de sementes de diferentes acessos do banco de germoplasma de urucum do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), mantido no Pólo Regional Centro Norte da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio, no município de Pindorama, SP, a concentração de geranilgeraniol variou de 0,5 ± 0,05 g/100g a 2,6 ± 0,3 g/100g.

Na medicina o geranilgeraniol tem sido usado com sucesso na profilaxia e no tratamento de diversos tipos de câncer [(MYERS et al., (1997); BURKE et al. (1997); VIRTATEN et al. (2002); ESPINDOLA (2005); FISHER et al. (1999); VASCONCELOS et al. (2004); McGUIRE & SEBTI (1997)]. O sucesso da utilização dessa substância no tratamento de câncer foi objeto de patente de SEBTI e McGUIRE (2000). Em 2004, TAN solicitou patente nos Estados Unidos do uso de extratos do urucum, incluindo geranilgeraniol. Além do auxílio no combate ao câncer, o geranilgeraniol tem sido apontado como importante para outros aspectos de saúde como na inibição do crescimento de Staphylococcus aureus (INOUE et al., 2005), no combate ao Tripanossoma cruzi (MENNA-RARRETO et al., 2008) e como inibidor da micobacteria tuberculosis (VIK et al., 2007).

TOCOTRIENÓIS

Aparência e fórmula estrutural do Delta-tocotrienol 
 

Os tocotrienóis são substâncias que apresentam forte atividade antioxidante e são conhecidas por fazerem parte das substâncias com atividade vitamínica E. No óleo de urucum, os tocotrienóis são formados predominantemente pelos isômeros gama e delta-tocotrienol, com esse último podendo alcançar uma concentração superior a 90% das formas presentes. Os tocotrienóis apresentam-se como um óleo viscoso, inodoro, de coloração avermelhada e são praticamente insolúveis em água e solúveis em óleo vegetal.

No metabolismo humano, os tocotrienóis apresentam atividade antioxidante bloqueando as reações de oxidação dos lipídeos e protegendo a membrana celular do ataque de radicais livres. O delta-tocotrienol tem sido associado a propriedades neuro-protetivas, anti-câncer e redutoras de colesterol (SEM, et al. 2007).

Segundo TAN (2004) o urucum é uma das raras plantas que contém tocotrienóis em uma proporção muito superior aos tocoferóis. A literatura cita uma concentração de tocotrienóis em sementes de urucum próximo a 140mg/100g (FREGA et al., 1998). Nos estudos conduzidos por nossos laboratórios em sementes de diferentes acessos do banco de germoplasma de urucum do Instituto Agronômico – IAC, a concentração de tocotrienóis variou de 0,25 ± 0,02 g/100g a 1,41 ± 0,11 g/100g

Cápsulas de tocotrienol de urucum comercializadas
 

Estudo conduzido pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sobre o controle de colesterol utilizando tocotrienol extraído de sementes de urucum.
 

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